“A IA não nos torna mais humanos”, diz criador do termo FOMO

Em passagem pelo Brasil, o empreendedor e investidor Patrick McGinnis falou sobre a ressignificação do conceito, que criou em 2000, ante aos avanços da inteligência artificial.

Criador do termo “Fear of Missing Out (FOMO)”, em 2000, o empreendedor e investidor americano Patrick McGinnis esteve no Brasil para falar com um grupo de C-Levels de marketing a convite do Mercado Livre. Na ocasião, McGinnis trouxe um novo termo derivado de seu original: o “Fear of Missing Audience (FOMA)”, destacando o desafio das marcas em relação a busca pela atenção das pessoas.

Para a Forbes Brasil, McGinnis destacou os desafios de lidar com a ansiedade em tempos de inteligência artificial, falou sobre os problemas derivados da bolha da influência e reforçou a importância de não olharmos IA como uma entidade sobrenatural, mas sim como máquinas e algoritmos.

“É uma ilusão achar que a inteligência artificial nos torna mais humanos ou pode prolongar a vida e a consciência humanas, é preciso entender que sempre estaremos dialogando com máquinas e algoritmos”, destaca McGinnis, que é autor de livros como o “Fear of Missing Out” e “10% Empreendedor”.

Forbes Brasil – O quanto o termo FOMO sobreviveu aos nossos tempos e o que ele representa atualmente?
Patrick McGinnis – As ideias por trás do FOMO sempre acompanharam a humanidade. O medo de ficar de fora de um grupo ou a comparação com a vida de outras pessoas são elementos primitivos. O que mudou, no entanto, foi a proporção disso tudo, potencializada, principalmente por novos aparelhos que nos conectam 24 horas por dia. E as redes sociais contribuíram para agravar ainda mais essa sensação, resultando em pessoas cada vez mais ansiosas e um grande desafio de saúde mental.

FB – A busca pela desconexão ou por um equilíbrio do tempo que vivemos imersos é crescente?
McGinnis – Os jovens já sabem como o jogo dos algoritmos funciona. Eles entenderam que existem apps desenhados, hoje, para ajudá-los na desconexão e na conexão com a mente. Estão mais conscientes quanto aos problemas que tudo isso gera. Hoje você já enxerga uma busca por experiências analógicas e até mesmo apps como o BeReal querendo mostrar algo real. Vejo os nativos digitais buscando uma saída desse círculo vicioso.

FB – O que agravou essa busca por desconexão e uma vida digital mais equilibrada?
McGinnis – A pandemia mudou as expectativas, antes dela estávamos conectados mas existia uma separação. Quando passamos a estar em nossas casas misturando vida, trabalho e escolha, tudo mudou. Agora que voltamos, queremos separar novamente e esse processo é muito doloroso. Restabelecer essas linhas é complicado e é exatamente por isso que passamos a ver movimentos de apps de saúde mental. A busca pela higiene mental. As pessoas ainda não sabem exatamente o que fazer, como estabelecer limites, mas está certo que temos vários problemas e que precisamos resolvê-los.

“É uma ilusão achar que a inteligência artificial nos torna mais humanos ou pode prolongar a vida e a consciência humanas, é preciso entender que sempre estaremos dialogando com máquinas e algoritmos”

FB – E como a inteligência artificial pode agravar tudo isso?
McGinnis – Sou muito cuidadoso em relação à ilusão que criamos sobre a IA. Se minha mãe morrer e existir um bot que permitirá continuar interagindo com ela, não será minha mãe, mas uma máquina. No caso de ChatGPT e outras ferramentas temos que entender de onde vem a informação. E essa informação é uma informação gerada por pessoas. A inteligência artificial não nos converte em humanos, mas faz com que a gente lide com algoritmos. Precisamos ter muita clareza ou teremos muitos problemas.

FB – Qual o papel do marketing e das marcas neste contexto?
McGinnis – O consumidor está sobrecarregado. Muitos canais, muita informação e uma busca por menos informação, agora que ela existe em abundância. Inclusive, FOMO tem uma relação direta com abundância. As marcas precisam dosar essa comunicação e também entender qual será o papel delas no futuro. O mesmo vale para os influenciadores. No começo, até confiávamos nos influenciadores, hoje sabemos o quanto eles são pagos e o quanto eles defendem seus produtos e interesses.

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