SXSW 2018: Jornalista usa realidade virtual para aumentar a imersão do público em reportagens

NONNY DE LA PEÑA, DA EMBLEMATIC. A EMPRESA USA A TECNOLOGIA PARA FAZER A AUDIÊNCIA “ENTRAR” NAS REPORTAGENS (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 

Ao criar suas reportagens, os jornalistas sempre esperam trazer o seu público para dentro da história. Há profissionais talentosos que são bem-sucedidos neste desafio ao escrever, filmar e gravar. Mas é muito improvável que uma reportagem consiga fazer sua audiência sentir as mesmas emoções que as testemunhas dos fatos.

No entanto, uma jornalista trabalha para que o público viva, de fato, as histórias: Nonny de la Peña. Considerada nos Estados Unidos como a “madrinha da realidade virtual”, ela é a fundadora e CEO da Emblematic, empresa que usa a tecnologia para fazer a audiência “entrar” nas reportagens.

Em palestra no South by Southwest (SXSW) nesta terça-feira (13/3), Nonny falou sobre sua carreira e seu trabalho com realidade virtual. Ela também defendeu o jornalismo imersivo como uma ferramenta poderosa contra as fake news.

Na maior parte de sua carreira, Nonny atuou como uma jornalista de veículos impressos dos Estados Unidos e México. Mas sempre teve afinidade com a tecnologia. “Houve dois momentos que me fizeram pensar que, um dia, eu iria trabalhar de forma mais disruptiva: o primeiro foi quando aprendi a programar na linguagem BASIC e percebi que era bem boa nisso. O segundo foi quando li ‘Realidade Virtual’, um livro que estava muito à frente do nosso tempo”, afirma Nonny, referindo-se a um livro publicado pelo escritor e futurólogo Howard Rheingold em 1991.

Em 2007 – antes de a realidade virtual ser sequer uma tendência – Nonny abria oficialmente a Emblematic. Desde aquela época, sua empresa desenvolvia óculos e toda a tecnologia necessária para uma experiência imersiva.

Um dos primeiros estagiários de Nonny foi nada mais nada menos que Palmer Luckey, o fundador da Oculus Rift, maior empresa de dispositivos de realidade virtual do mundo, vendida para o Facebook em 2014 por US$ 2 bilhões.

A maior parte do trabalho jornalístico da Emblematic é feita por meio da captação do movimento de atores, que reproduzem os movimentos das pessoas envolvidas nas histórias. Posteriormente, toda a captação é transformada em uma animação do Unity, plataforma de desenvolvimento de games – ou seja, os aspectos visuais da reportagem têm os mesmos gráficos de jogos eletrônicos. O áudio, no entanto, é composto pelas gravações originais do episódio.

Seu primeiro trabalho de destaque, chamado “Hunger in Los Angeles”, (“Fome em Los Angeles”), mostra uma história ocorrida em uma fila para pessoas pobres conseguirem uma refeição. Na fila, um homem diabético tem um ataque causado por falta de glicose no sangue.

Nos anos seguintes, as reportagens da Emblematic abordaram questões como a guerra na Síria, violência doméstica, preconceitos contra a comunidade LGBT e a vida nos presídios americanos.

Contra a falsidade
No final de sua apresentação, Nonny falou sobre como experiências imersivas podem mostrar de forma mais satisfatória o que realmente está acontecendo no mundo e subjugar as fake news, notícias falsas que se espalham pela internet. “Precisamos de tecnologias como a realidade virtual e bons contadores de histórias para guiar a humanidade para um caminho melhor. Precisamos espalhar a gentileza”, diz.

A empresária também acredita que trabalhos em realidade virtual se popularizarão nos próximos anos. “Percebo uma demanda maior por experiências imersivas. Além disso, a popularização da internet 5Gmudará a forma como usamos o smartphone e tornará o uso da realidade virtual ainda mais verossímil. Além disso, fones de ouvidos mais poderosos se tornarão populares, o que também contribuirá para uma experiência mais profunda.”

FONTE:  ÉPOCA