Os poucos brasileiros na peneira da YC

Vendah aproveita superexposição a mais de 2 mil investidores globais no Demo Day para abrir captação.

Franco, Pedruzzi, Canovas e Ilana, fundadores da Vendah, recebem mentoria do cofundador da Twitch, Michael Seibel (sentado) — Foto: Y Combinator

É mais fácil um candidato ser aceito em Harvard do que uma startup entrar no programa da maior aceleradora do mundo – por surpreendente que pareça. O índice é de mais ou menos 5% dos inscritos na universidade americana e de 1,4% na Y Combinator.

Quatro empreendedores brasileiros passaram nessa peneira, entre mais de 20 mil companhias do mundo, para fazer um pitch no Demo Day da aceleradora, que aconteceu na quinta e sexta-feira na Califórnia e costuma ser um sinalizador de tendências.

A Vendah, que conecta a indústria a revendedoras da classe C, foi a única com operação no Brasil nesse grupo. A startup já é conhecida da YC – no fim do ano passado, recebeu um aporte de US$ 500 mil da aceleradora e a equipe teve quatro meses de apoio estrutural e assessoria para aprimorar o produto — e decidiu fazer a residência dos Estados Unidos mesmo, como outros 86% do “batch”, como esse universo define cada fornada de selecionadas.

Durante o processo, a startup teve mentores como o cofundador da Twitch, Michael Seibel, e o cofundador do Monzo, o Nubank britânico, Tom Blomfield.

Apesar de já ter a aceleradora na base, a disputa por um lugar ao sol – ou melhor, ao palco – do Demo Day não é à toa. A exposição para mais de dois mil investidores do mundo inteiro costuma ajudar muito fundador a fisgar sua próxima rodada.

Foi o que aconteceu na Vendah. “Estamos buscando esse apoio para conseguir melhorar ainda mais as nossas margens e atingir um breakeven em 18 meses”, disse o CEO Luis Felipe Franco ao Pipeline. A startup busca um crescimento de venda no ritmo de 10% a 20% todos os meses. “Para isso, vamos iniciar um processo de expansão, ainda bem controlado, para regiões perto de onde a gente já atua”, conta, citando Grande São Paulo, Campinas, baixada santista e interior do estado.

A Vendah tem apelo para investidores com foco no S do ESG. Ao lado de Ilana Nasser, com quem trabalhou na Endeavor, Marcelo Canovas, que cofundou startups como LivUp e UseBike; e Pedro Pedruzzi, um dos primeiros funcionários da Amazon no Brasil, Franco fundou a companhia para ser uma alternativa de trabalho flexível para mulheres da periferia e uma solução de logística para a média indústria, como a fabricante de fraldas mineira CCM e a paranaense Aeroflex, de aerossois.

Dispensando a revendedora de comprar estoque (e também o famoso enxoval, a pegadinha clássica da venda direta), a Vendah tem um catálogo que vai desde produtos para a casa a itens para pets, trabalhado na ponta por meio do WhatsApp.

É um segmento que tem atraído atenção de investidores: a Meesho, um marketplace indiano com modelo de negócios muito semelhante, foi avaliada em quase US$ 5 bilhões no mês passado. Há cerca de um ano, a Vendah já havia levantado R$ 8 milhões em dívida conversível, numa rodada liderada pela Maya Capital, com participação da Norte Ventures e Village Global, fundo que conta com nomes como Bill Gates, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg entre os apoiadores.

Apesar de ser a única empresa atuante no Brasil presente no evento, outros empreendedores brasileiros com startups sediadas no exterior também fizeram seu pitch nesse palco global – como Zeno Rocha, que criou a ferramenta para desenvolvedores Resend, Felipe Aragão, da coletadora de dados de APIs Portalform, e os cofundadores da MagnaPlay, de games, Pedro Esteves and Paulo Rodrigues.

Neste ano, o programa contou com 11 startups da América Latina. A maior parte das selecionadas opera nos mercados de SaaS, com soluções de IA, ferramentas para desenvolvimento de software e open source. Entre as selecionadas, 54% receberam aporte apresentando apenas um Power Point, sem nenhum produto ou teste, e 77% nunca tinha recebido investimento externo.

Com esse processo de aceleração, a YC já deu origem a mais de uma centena de unicórnios ao redor do mundo, incluindo Airbnb, Dropbox e Stripe. Entre as brasileiras que passaram pelo programa, estão Brex, Conta Simples, Kovi e Quero Educação. Os empreendedores dessas companhias, a propósito, circularam pelo evento, trocando figurinhas com os presentes durante os happy hours e após os pitchs, que aconteceram online e presencialmente.

Pouco se viu de reflexo da falência do Silicon Valley Bank no ânimo dos empreendedores e investidores. “Foi um choque para todo mundo, mas com muito mais impacto no late stage. O empreendedor, mesmo com frio na barriga, tem que seguir fazendo acontecer”, diz Franco.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/startups/noticia/os-poucos-brasileiros-na-peneira-da-yc.ghtml