Na temporada de balanços, sai inovação, entram os desafios

Santander capturou palavras mais repetidas por CEOs e CFOs nas teleconferências do quarto trimestre.

Nas empresas listadas na B3, a desaceleração econômica e juros altos pesaram o tom dos balanços — Foto: Reprodução

Uma imagem vale mais que mil palavras, ainda mais se for composta de… palavras. Em um jeito criativo para capturar o tom das empresas na temporada de balanços, o Santander faz ,a cada trimestre, uma nuvem de termos mais repetidos por executivos durante as teleconferências com analistas. E, no quarto trimestre, como a média de desempenhos já mostrou, o humor não estava dos melhores.

As palavras que mais ganharam espaço no período foram “desaceleração” (autoexplicativa) e “desafiador”, um eufemismo usado com frequência por CEOs e CFOs para indicar que as expectativas dos investidores e analistas devem ser as m ais conservadoras possíveis.

O aumento dessas expressões não chega a ser uma surpresa. A economia brasileira, além de ainda estar se recuperando dos efeitos da pandemia, sofre com uma rápida alta dos juros ao longo dos últimos dois anos, com a Selic saindo de 2% para 13,75% ao ano, o que dificulta a tomada de recursos para financiar investimentos e torna mais caro o pagamento de dívidas.

Se o juro mais alto torna mais “desafiadora” a vida das empresas, os gestores precisam pensar duas vezes antes de usar o dinheiro disponível para investir. Não por acaso, as expressões “inovação” e “digital”, que costumam aparecer quando as empresas querem mostrar que estão abrindo o bolso para se modernizar, perderam espaço.

No relatório do Santander, a estrategista de ações Aline Cardoso diz que essa diminuição está “em linha com o foco mais acentuado das empresas em preservação de caixa e margens.” Termos como “crédito”, “financiamento” e “empréstimos” tiveram menos menções, mas continuam como os mais relevantes da nuvem, empatado com os termos relacionados a ESG.

Considerando todas as empresas cobertas pelo banco no período, os balanços registraram um crescimento da receita líquida de 8,5% no quarto trimestre em relação a igual período do ano anterior. Já o Ebitda do conjunto de empresas caiu 5% no trimestre e o lucro líquido despencou mais de 10%, também em relação a 2021, com o peso das despesas financeiras.

Mais de 37% das empresas na cobertura do banco reportaram Ebitda abaixo das expectativas, incluindo BradescoMarfrigRaízen e Gerdau.

FONTE: https://pipelinevalor.globo.com/mercado/noticia/na-temporada-de-balancos-sai-inovacao-entram-os-desafios.ghtml