6G e descentralização: um futuro não tão distante

Enquanto o 5G avança no país, pesquisadores já estão estudando as próximas etapas tecnológicas, como o 6G, Web 5.0 e computação quântica.

Em média, um salto tecnológico demanda cerca de uma década de estudos. Por isso, pesquisadores de diversas instituições nacionais já analisam os desafios das novas etapas da conectividade e seus possíveis casos de uso. Para os participantes do último painel realizado durante a Futurecom 2023, que trouxe o debate sobre 6G, Web 5.0 e descentralização, até hoje as redes móveis visavam somente prover comunicação. A partir do 6G, esse paradigma será quebrado e o serviço passará a integrar novas funções.

“Imagem, sensoriamento e posicionamento serão tão importantes quanto comunicação nas redes 6G”, disse Daniely Gomes da Silva, pesquisadora e professora do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel). Segundo ela, as redes 6G irão viabilizar a Inteligência Artificial (IA) e o Machine Learning (ML) em todas as camadas, proporcionando maior vazão, robustez e latência de comunicação, além de objetos autônomos e sensoriamento (consciência do ambiente e mapas 3D-HD, por exemplo).

A especialista explicou que o 6G deverá proporcionar grandes avanços para diversos segmentos, em especial para o agronegócio. “A tecnologia 5G foi desenvolvida para centros urbanos, tendo em vista os requisitos das operadoras. Existem várias áreas não cobertas e o 6G será essencial para isso”, afirmou. “A nova conectividade vai viabilizar a agricultura de precisão, o monitoramento de rebanhos, aplicações de Internet das Coisas (IoT) em qualquer lugar, além de maior inclusão social”.

Daniely citou, ainda, outros casos de uso, como gêmeos digitais, que viabilizam réplicas virtuais em grande escala, com aplicações do metaverso, que irão contribuir para a parametrização de processos. “Teremos interações remotas, eventos imersivos, telemedicina imersiva, zonas de segurança invisíveis”, elencou.

Pesquisas sobre redes 6G avançam

O Inatel é uma das instituições nacionais que está estudando o avanço tecnológico e suas possibilidades, por meio do Programa Brasil 6G, realizado em parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

“O Brasil, pela primeira vez, iniciou as pesquisas no tempo certo, para que de fato os casos de uso do 6G possam ser cobertos”, disse Christian Rothenberg, pesquisador responsável pelo Smartness, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ele, serão necessários cerca de dez anos de pesquisas para que uma nova geração móvel seja implementada. “O nosso desafio é olhar para o futuro e pensar como será a tecnologia necessária para os serviços e aplicações, que não serão atendidos pelo 5G”, completou Rothenberg.

Dentre as possibilidades, o especialista citou percepções sensoriais, como estímulos olfativos, e hologramas, que podem revolucionar a maneira como as pessoas interagem em diversos ambientes.

No mundo, também há outras iniciativas estudando aplicações e casos de uso para o 6G, como o 6G Flagship, da Universidade de Oulu (Finlândia), o Hexa-X, projeto da União Europeia, e o One 6G, realizado por uma associação de empresas e universidades.

Futuro descentralizado

Também presente ao painel, Gustavo Correia Lima, líder de tecnologias wireless do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), destacou que o 6G “já é básico”. “O momento, agora, é de pensar em redes mais potentes, cloud e tecnologias de edge. Uma vez que temos estrutura para atender às funções de rede, é normal que tenhamos, também, capacidade para aplicações avançadas”, comentou.

Lima citou a comunicação quântica e o potencial de surgimento de redes descentralizadas e novos modelos de negócios. “A segurança das redes será garantida pela blockchain e os negócios, remunerados por criptoativos. As chaves criptografadas poderão ser transmitidas por um canal quântico”, afirmou.

Segundo ele, atualmente os dados são criptografados e, em seguida, enviados por cabos de fibra óptica ou redes de comunicação, junto com as chaves digitais necessárias para que sejam decodificados. “É uma solução que tem um certo grau de vulnerabilidade. Já a comunicação quântica poderá trazer um nível extra de segurança”, explicou.

Dentre as tendências, o especialista listou o surgimento de redes abertas e desagregadas, cloud e edge computing como infraestrutura de base, redes autônomas, maior convergência entre redes e aplicações, convergência entre comunicação sem fio terrestres e não-terrestres e provedores descentralizados.

Mário Cintra, gerente de P&D do Instituto Eldorado, um hub de Inteligência Artificial e Arquiteturas Cognitivas (H.IAAC) que conta com o apoio do governo federal e da Unicamp, acrescentou que a nova fase da conectividade deve agregar novos métodos e algoritmos a serem incorporados em dispositivos móveis e vestíveis.

“Novas bases de dados para algoritmos de aprendizado de máquina estão sendo desenvolvidas, para todas as linhas de pesquisa”, destacou. “O H.IAAC elaborou protótipos das primeiras arquiteturas cognitivas para o sistema operacional Android. Os testes revelaram não apenas as potencialidades dessas arquiteturas, mas as oportunidades e os muitos desafios de pesquisa e desenvolvimento a serem superados”, completou Cintra.

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