6 startups que faturam no mercado de eSports

O setor deve faturar US$ 15 milhões em 2026.

Os dados do mercado de games no Brasil mostram como o segmento pode conter uma série de oportunidades para empreendedores. Segundo dados de 2022 da Pesquisa Game Brasil (PGB), cerca de 75% dos brasileiros dizem ter o hábito de acessar jogos digitais, e 76,5% desse público, os jogos eletrônicos são a principal fonte de entretenimento.

O setor deve faturar US$ 15 milhões em 2026; um valor quase três vezes maior do que a receita de 2021, que foi de US$ 5,4 milhões.

Para inspirar empreendedores que se interessam pelo nicho, mostramos seis histórias de startups que estão explorando o mercado de eSports com sucesso. Veja a seguir:

Foco em profissionalização

Em 2019, os amigos Ítalo Nascimento, 33 anos, e Camilo Martins, 35, decidiram unir paixão a oportunidade e fundar a Neverest, startup de esportes eletrônicos. “O meu irmão jogava profissionalmente e precisava de ajuda para buscar uma equipe. Na época, o Camilo tinha feito um estudo sobre o mercado de eSports e nós enxergamos uma oportunidade”, conta Nascimento, que também é gamer.

A princípio, a Neverest foi fundada como um time de Counter Strike; hoje, a plataforma está focada no game Valorant. “A nossa opção foi por ajudar o cenário inteiro a evoluir, melhorando o nível dos jogadores e fomentando o esporte. O objetivo da nossa plataforma é realizar o sonho dos gamers que querem se profissionalizar”, afirma Martins.

A plataforma oferece ferramentas e conteúdo educacional para os jogadores. Cursos online, aulas ao vivo, campeonatos internos e apresentação dos jogadores a equipes profissionais são alguns dos serviços disponíveis. Os clientes podem se cadastrar para ter acesso a conteúdo gratuito ou pagar uma mensalidade de R$ 24,90 para utilizar toda a plataforma.

A startup também tem um braço B2B, oferecendo às empresas possibilidades de interação com o público da plataforma, realização de campeonatos e acesso a uma rede de atletas e streamers. “As companhias podem assim catalisar a produção de conteúdo e as conexões que oferecemos”, explica Martins.

A Neverest, que conta com dez funcionários, tem 25 mil pessoas cadastradas em sua plataforma. Os sócios não revelam o faturamento de 2022, mas dizem que foi acima de R$ 200 mil. A startup já recebeu dois aportes, um de investidores-anjo e outro da BVC Capital, de valores não revelados. Para o futuro, a expectativa é ser o maior fomentador de eSports do Brasil. “Queremos ser um hub 360º, no qual o atleta receba tudo o que precisa para chegar ao nível profissional”, diz Martins.

Para quem quer empreender no setor, Nascimento sugere buscar soluções para as dores do cliente. “A gente encontrou no mercado de eSports um grande problema, que são os jogadores que querem se profissionalizar, mas não conseguem por falta de acompanhamento e investimento. Abordar os clientes e entender suas dificuldades é fundamental para um bom planejamento.”

Ponte entre marcas e eSports

A G4B assessora marcas e agências de publicidade que querem se associar ao universo dos esportes eletrônicos, mas não sabem qual é a melhor maneira de fazer isso. Marcela Miranda, 45 anos, sócia-fundadora da startup, conta que foi o contato com o público geek, na época em que comandava a fintech Trigg, que ajudou a identificar as possibilidades do nicho.

“Percebi que havia mercado, mas era difícil para as marcas entenderem a dinâmica dos eSports. Decidi que faria essa ponte entre as empresas que têm interesse no mercado e os times que necessitam de profissionalização”, afirma Miranda. A G4B tem ainda como sócias Cynthya Rodrigues, 30 anos, que é gamer, e Juliana Almeida, 40 anos, que empresta a expertise em branding, marketing e projetos.

No contato com os times, a startup explica como se apresentar de maneira mais atraente a possíveis clientes. “Muitas equipes de esportes nasceram de um grupo de amigos. O que eles querem é competir”, diz Miranda. “Conversamos com eles e mudamos muita coisa, inclusive estrutura de vendas, discurso e pitch. Depois traduzimos isso para uma linguagem que faça sentido para a marca que quer investir.”

A startup é estratégica para a Seastorm, uma venture builder com base em plataformas digitais criada por Miranda e outros sócios em 2021. “A G4B é a porta de entrada para ajudarmos a educar e fomentar o mercado. Temos outras startups relacionadas a esse universo que já estão prontas para nascer”, afirma Miranda.

O investimento inicial feito pela Sea-storm foi de R$ 500 mil. O faturamento daquele ano foi de R$ 3 milhões. A previsão para 2023 é de uma receita de R$ 10 milhões. Atualmente, a startup tem entre as parceiras a Ubisoft, importante publisher de games independentes, e a TV Woohoo, focada em cultura jovem e entretenimento.

Segundo Miranda, empresas de aposta, mercado financeiro e marcas de automóveis de luxo têm investido em eSports. “Acredito que estamos vivendo uma marola, que vai virar onda daqui a mais ou menos um ano”, afirma.

Engajamento com parceiros e clientes

SkillCore oferece ambientes de gamificação para que as empresas possam interagir com parceiros e clientes. “A gente basicamente transforma processos tradicionais em algo mais divertido. Usamos ferramentas dos videogames para trazer engajamento e motivação aos usuários”, diz Thiago Nascimento, 36 anos, CEO e cofundador da startup.

Segundo o empreendedor, a SkillCore nasceu com a proposta de atender equipes e ligas de eSports, mas com o tempo diversificou os negócios. Hoje, também presta serviço a empresas que queiram aproveitar as estratégias dos games para cativar a atenção do usuário. “A grande virtude dos eSports é a capacidade de engajamento com o público, e foi isso que transformamos em produto”, afirma Nascimento.

Com a ajuda da SkillCore, as empresas tornam seu conteúdo corporativo mais atraente, usando recursos dos games, como pontos, recompensas e jornadas. Depois, a startup transforma a interação dos fãs digitais em dados, para que a companhia entenda melhor quem é o seu público e possa transformar essa informação em inteligência de mercado.

A startup, que tem sede no Brasil e em Portugal, foi fundada em 2019 por Nascimento, apaixonado por esportes e games, e pelo publicitário Mauricio Daniachi. Hoje a empresa tem sete funcionários. A presença em território europeu facilitou a participação em um programa de incubação da espanhola Demium. Como resultado, a startup recebeu um aporte de 100 mil euros do fundo Think Bigger Capital.

“No primeiro semestre de 2023, estamos amadurecendo a nossa tração para poder, no segundo, abrir as portas para novos investidores”, afirma Nascimento. De acordo com o empresário, a startup tem 60 clientes ativos, e os usuários ativos mensais giram em torno de 25 mil. Os sócios não revelam o faturamento de 2022, mas dizem que foi acima de R$ 200 mil. Para este ano, a intenção é fazer novas parcerias, uma delas com um time de futebol, e dessa maneira multiplicar a base de usuários – e o faturamento. “Nosso foco hoje está em grandes projetos”, afirma o empreendedor.

Para experts e amadores

Inov3 Games organiza campeonatos de esportes eletrônicos profissionais e também eventos para amadores, destinados a empresas que querem realizar ações ligadas ao mundo gamer. “Geralmente são instituições como shoppings e bancos, que estão em busca de fluxo e querem atrair clientes. Mas já fizemos um campeonato para um colégio que queria conquistar mais alunos em dia de matrícula”, diz Danilo Muniz, 37 anos, CEO e fundador da startup.

Com sede em Belo Horizonte (MG), a empresa tem atuação nas principais capitais do Brasil desde 2019, oferecendo de equipamentos profissionais a árbitros para eventos gamers. “Entramos com o site das inscrições, as transmissões e os campeonatos online, e também com toda a estrutura para o evento presencial, da mobília aos narradores e comentaristas”, afirma o empreendedor.

Muniz explica que a comunicação visual dos eventos pode ser tanto com a marca da startup quanto com a do cliente. “Levamos também jogadores profissionais para os campeonatos, o que atrai a curiosidade dos fãs”, afirma. A empresa desenvolve ainda jogos personalizados para empresas e gerencia equipes de eSports.

Antes de empreender, Muniz foi jogador profissional de futebol digital. Por isso mesmo, ele entende quais são as dores do mercado. “Eu via a necessidade de profissionalização nos eventos. Quem jogava sentia na pele o que faltava”, afirma o fundador, que também é advogado com especialização em direito desportivo e esportes eletrônicos.

Mesmo com a maior profissionalização dos eSports no país, Muniz diz que há pouca concorrência para a startup, que já participou da realização de um evento com mais de 30 mil pessoas, o Video Game Show (VGS) de 2019. Segundo ele, a startup já recebeu dois aportes, e os apoiadores tiveram o retorno dos investimentos. “Hoje, a empresa é autossustentável”, diz o empreendedor, que não revela valores de aportes recebidos ou de faturamento.

Um público de milhões

Fundada em 2018, a Los Grandes começou como uma empresa especializada no jogo Free Fire, para celular. Com o tempo, o empreendimento fundado pelo streamer e ex-jogador Rodrigo Fernandes, conhecido como “El Gato”, passou a incluir equipes de Counter Strike: Global Offensive, Rainbow Six Siege e League of Legends. Hoje, é uma das maiores organizações de esportes eletrônicos do país, com uma fanbase de quase 10 milhões de seguidores.

O investidor-anjo e empreendedor Rodrigo Terron, 30 anos, tornou-se sócio e conselheiro da Los Grandes em 2021, em busca de novos aprendizados e conexões. “Eu via que a indústria dos esportes eletrônicos tinha potencial. Como o Rodrigo [Fernandes] buscava alguém para pensar a organização como negócio, decidi me tornar sócio”, afirma.

Segundo Terron, a Los Grandes tem como objetivo adotar um estilo similar ao empregado em startups “O mindset de gestão é startupeiro, traz essa ideia de fazer aquisições, fusões e trabalhar para valorizar o negócio do ponto de vista do valuation”, afirma Terron.

Dentro desse mindset, ele cita algumas ações: a aquisição da Digital Influencer, startup de gestão de carreira de influenciadores que a Los Grandes quer ajudar a escalar; a cocriação de uma liga independente, para organizar os próprios campeonatos; e a aquisição da Gemu, uma plataforma de desafios em eSports. Essa guinada, afirma, tem a ver com sua própria experiência como empreendedor. Além de atuar como investidor-anjo de startups, ele é CEO da Rocketseat, uma plataforma de educação online que oferece cursos de programação.

Para quem quer empreender no segmento, Terron afirma que o momento é de profissionalização. “A maior parte das organizações que começaram há dez anos foi fundada por players que amavam o esporte. Agora o objetivo é trazer os talentos das startups para o setor”, afirma.

A Los Grandes, que conta com 70 colaboradores, está avaliada hoje em US$ 25 milhões. A empresa, que já recebeu US$ 2 milhões em aportes de investidores-anjo, se prepara para uma rodada de investimentos no final deste ano, na qual quer captar de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões.

Software para os esportes eletrônicos

SporTI surgiu em 2016 como um projeto de uma software house, criado por Sandrelise Chaves, 35 anos, e seu marido, Cristian Gomes, 34. Na ocasião, eles haviam sido chamados para desenvolver um site para uma organização esportiva que queria melhorar a experiência dos atletas. Ao conversar com o cliente, porém, os empreendedores perceberam que o melhor seria investir na elaboração de um software para sanar os problemas.

“Quando vimos que o cliente acumulava pilhas de papel e planilhas de Excel que não davam conta da informação, entendemos que havia ali uma oportunidade”, explica a empresária. A SporTI foi formalizada em 2018 com três sócios: Chaves, Gomes e Diogo Magalhães, que não faz mais parte do quadro societário.

Hoje, eles oferecem uma plataforma completa para gestão e marketing de eventos esportivos – sejam eles presenciais ou virtuais. Segundo Chaves, a vantagem de usar a plataforma é a economia de tempo e dinheiro, o que melhora a experiência do gestor e traz benefícios para todos que dela participam, como jogadores e árbitros. “Com a nossa ferramenta, o cliente pode abrir competições, receber inscrições e pagamentos, estabelecer o formato da disputa e lançar os resultados.”

Outro foco de atuação da empresa é a formação de jogadores profissionais de eSports. “Usamos nossa tecnologia para encontrar, selecionar, treinar e desenvolver atletas profissionais”, explica Chaves. “Além disso, temos uma equipe de esportes eletrônicos chamada Nova Game.”

A SporTI já passou por mais de dez programas de aceleração. “Em cada um deles sempre há um ganho, que pode ser financeiro ou mais que isso”, diz a empreendedora. Os sócios não revelam a receita, mas dizem que, no primeiro bimestre de 2023, a startup faturou entre R$ 300 mil e R$ 500 mil, valor semelhante ao total de 2022.

O crescimento, segundo Chaves, se deve à retomada do esporte presencial, à expertise adquirida pelos sócios e ao aumento da popularidade dos eSports. A projeção para 2023 é um faturamento total de R$ 1,4 milhão. A licença de uso do software tem o tíquete médio anual de R$ 3 mil. A elaboração de projetos esportivos tem o tíquete médio de R$ 15 mil.

FONTE:

https://revistapegn.globo.com/startups/noticia/2023/09/6-startups-que-faturam-no-mercado-de-esports.ghtml