5G chega ao Brasil: o que ainda precisa ser feito para avançar na conectividade

Imagine o dia em que um médico em São Paulo consiga fazer em tempo real uma cirurgia em um paciente que está em Macapá. Ou a possibilidade de pegar uma carona até o outro lado da cidade em um carro autônomo, ou seja, sem motorista. Parece um filme de ficção científica, certo? Mas são apenas duas de uma infinidade de possibilidades que a chegada do 5G nos traz.

Após um longo capítulo entre disputas geopolíticas, questões comerciais e um leilão muito esperado, o 5G chega oficialmente ao Brasil. Realizado em novembro de 2021 pelo governo federal, o chamado leilão do 5G movimentou R$ 46,7 bilhões entre as dez empresas ganhadoras da negociação.

Brasília foi a primeira capital do país a oferecer o tão aguardado 5G “puro”. A tecnologia conta com uma infraestrutura totalmente nova e dedicada exclusivamente a ela e, por isso, oferece uma internet com alta velocidade, conexão massiva de dispositivos, com um baixo tempo de resposta e alta confiabilidade.

No dia 29 de julho foi a vez das cidades de Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB) e Porto Alegre (RS). O cronograma previsto para implementação do 5G no Brasil aponta que até o dia 29 de setembro todas as capitais devam ser contempladas. Porém, para cidades menores, aquelas com até 30 mil habitantes, a previsão é de que a tecnologia chegue apenas em 2028.

As redes 5G utilizam frequências de rádio mais altas para o seu funcionamento e que permitem ampliar a capacidade de transmissão de dados a uma latência menor — que é o tempo que a informação leva para sair do computador e chegar ao destino. O 5G permite uma internet até 20 vezes mais rápida que o 4G; para se ter uma ideia, se antes levávamos 10 minutos para baixar um filme no 4G, o mesmo poderá ser feito em apenas 30 segundos utilizando o 5G.

Os ganhos que o 5G promete trazer para o país poderão elevar o Produto Interno Bruto (PIB) em US$ 1,2 trilhão até 2035. A tecnologia deve resultar no aumento da produtividade, no desenvolvimento de novas soluções, abertura de novos negócios e na queda nos custos de produção. O Brasil, finalmente, se junta aos 60 demais países que já possuem a tecnologia de quinta geração.

A conectividade como um direito social

As perspectivas de como essa nova tecnologia pode impulsionar a utilização de soluções disruptivas são muito animadoras, mas não devemos deixar de reconhecer os desafios históricos para que a conectividade possa ser um direito social garantido à população. A chegada do 5g reforça também como é preciso reduzir as profundas desigualdades no acesso à internet existentes no Brasil. Isso porque, ignorar a complexa realidade social do nosso país pode nos levar a repetir as mesmas injustiças, agora diante de uma nova tecnologia que promete ser tão transformadora.

Democratizar o acesso ao 5G é uma necessidade (Imagem: Jeremy Bezanger/Unsplash)

Dados da Anatel de julho de 2022 mostram que 90,15% dos moradores do país recebem cobertura 4G. Apesar da alta porcentagem, é necessário analisar as diferenças regionais: enquanto 99,66% dos moradores do Distrito Federal acessam o 4G, no Piauí o percentual cai para 73,78%. Por ser uma tecnologia que depende da instalação de antenas, há no país grandes “lacunas” de conexão. Em 2022, apenas 12,45% do território nacional conta com cobertura 4G. O Amazonas é a unidade da federação com menor área coberta, 0,82% do estado.

Um estudo do Instituto Locomotivas e da empresa de consultoria PwC, realizado em 2022, identificou que 33,9 milhões de brasileiros estão desconectados e outros 86,6 milhões não conseguem se conectar todos os dias. Os impactos de uma população excluída digitalmente podem ser medidos a partir das enormes perdas econômicas. Mas eles são sentidos, principalmente, como uma violação incalculável ao pleno exercício da cidadania.

Em uma sociedade que vive sua revolução tecnológica, excluir pessoas do acesso à internet significa condená-las à pobreza, à exclusão social e à impossibilidade de acessar recursos essenciais para se desenvolver, estudar, acessar serviços públicos –como bem demonstrou a pandemia de covid-19 — e gerar riquezas.

Para enfrentar um problema desta magnitude, é preciso prioritariamente desenvolver políticas públicas inclusivas para a ampliação do acesso à internet, como a criação de um novo Plano Nacional de Banda Larga.

É fundamental também garantir estratégias, metas e obrigações de cobertura de telefonia e banda larga móveis (3G, 4G e 5G) nos municípios brasileiros. Iniciativas como essas, aos poucos, estão sendo desenvolvidas. Como é o caso do leilão do 5G, encerrado em novembro de 2021, que garantiu o compromisso do poder público de conectar 85% das escolas até o ano de 2028. Com isso, dos R$ 47,2 bilhões que devem ser investidos pelas empresas privadas, R$ 3,1 bilhões — o equivalente a 6,5% —vão para a área de educação.

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A chegada do 5G no Brasil é uma ótima notícia e trará enormes ganhos para o nosso ecossistema de inovação e tecnologia. Precisamos garantir que o desenvolvimento tecnológico esteja atrelado ao compromisso de gerar ganhos sociais, de forma que o avanço proporcionado pela nova geração de banda larga móvel represente também uma oportunidade de democratizar o direito à conectividade para uma importante parcela da sociedade ainda excluída.

FONTE: https://canaltech.com.br/telecom/5g-chega-ao-brasil-o-que-ainda-precisa-ser-feito-para-avancar-na-conectividade/