Conheça o WeGrow, a escola infantil do WeWork

MIGUEL MCKELVEY, COFUNDADOR DO WEWORK. “O MODELO TRADICIONAL DE EDUCAÇÃO FOI ESTABELECIDO HÁ MUITO TEMPO, E NÓS NÃO VIVEMOS MAIS NESSE MUNDO” (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Aquela velha imagem de alunos sentados em carteiras escolares, silenciosos e olhando para o professor que fica na frente da lousa logo pode virar coisa do passado. Pelo menos se depender dos fundadores do WeWorkMiguel McKelvey Adam Neumann. A empresa de coworking criada por eles já tem mais de 200 mil membros em 20 países, com 212 escritórios em 66 cidades e é avaliada em US$ 20 bilhões — mais que a gigante do setor imobiliário Boston Properties ou o mesmo que a centenária Hilton. Depois de inovarem criando escritórios em que várias empresas trabalham lado a lado em ambientes modernos e coloridos, os chamados coworkings, eles querem revolucionar a educação infantil.

Em setembro de 2018, será inaugurada a primeira unidade do WeGrow, a versão deles para a escola do futuro. Ela ficará dentro de uma das unidades do WeWork em Nova York e o custo anual para os alunos poderá chegar a US$ 36 mil por ano. O objetivo é redefinir a forma como as crianças aprendem e a relação entre elas e os professores. Afinal, se a maneira como as pessoas trabalham mudou, é preciso que os novos profissionais estejam prontos para trabalhar nesse novo formato.

Pelo menos inicialmente, a escola do WeWork só vai aceitar alunos de até 9 anos. Mas, segundo o site do projeto, a expectativa é abrir turmas gradualmente até o último ano do Ensino Médio. O currículo é extenso. Vai de literatura, ciências, engenharia, matemática, artes e estudos sociais a ioga, meditação e filantropia, passando por alimentação consciente, dança e artes marciais. Como forma de incentivar o espírito empreendedor, as crianças vão cuidar de uma horta urbana e vender os produtos em uma feira de orgânicos.

Segundo Rebekah Neumann, uma das sócias do WeWork e idealizadora do projeto, todo o currículo é pensado para “soltar os superpoderes de cada criança” — o dela, de acordo com o site do WeGrow, é a intuição. Para isso, os professores vão incentivar os alunos a explorarem as áreas em que demonstrarem mais interesse e aptidão. Os pequenos serão conduzidos para “trabalhar” como aprendizes de funcionários e profissionais que façam parte do WeWork.

Em entrevista à Bloomberg, Rebekah chegou a dizer: “não vejo razão para que crianças não possam criar seus próprios negócios”. A ideia de criar a escola veio de uma necessidade muito pessoal. Ela diz não ter encontrado nenhuma opção satisfatória para ajudar seus cinco filhos a se desenvolverem como pessoas.

Parece estranho que uma empresa que aluga espaços de escritório queira atuar também na educação infantil? O cofundador Miguel McKelvey ri da pergunta. Em entrevista à Época NEGÓCIOS, concedida na Cidade do México, ele disse concordar que o movimento não era esperado, mas defendeu que a ideia por trás dos dois empreendimentos é criar comunidades de pessoas que querem aprender juntas.

Calmo e objetivo, apesar do pouco tempo disponível — e de funcionários de diferentes países do WeWork preocupados em manter tudo no horário planejado — ele diz acreditar que o motivo de todo o sucesso do WeWork (que não foi a primeira empresa a criar os escritórios compartilhados, por sinal) se deve à empresa ter conseguido criar uma grande comunidade de empreendedores. Todo mundo que aluga um espaço nos escritórios ganha acesso a um aplicativo, pelo qual consegue entrar em contato com membros do mundo inteiro. “Com o WeWork, aprendemos que quando as pessoas se conectam, tornam-se mais fortes. Queremos facilitar o crescimento delas, e acreditamos que o caminho para isso é cercá-las de uma comunidade”, afirma McKelvey. “Aquilo que aprendemos ao aproximar as pessoas nos coworkings também se aplica à educação. É uma extensão natural”, diz.

McKelvey fala também sobre a importância de se criar um formato novo, do zero. “O modelo tradicional de educação foi estabelecido há muito tempo, e nós não vivemos mais nesse mundo”, diz, apesar de ser cauteloso ao criticar o modelo estabelecido. O objetivo é que as crianças “aprendam a aprender”, para que sigam nesse caminho de desenvolvimento ao longo de suas vidas.

Essa não é a primeira investida do WeWork para além do mercado imobiliário. A empresa propõe também uma “nova forma de viver”, com o coliving WeLive. Para muitos, é uma espécie de república estudantil para adultos. A empresa define o empreendimento como uma forma de morar baseada em “comunidade e flexibilidade”. É possível ficar apenas por algumas noites ou por vários meses em pequenos apartamentos mobiliados. Para compensar o pequeno espaço individual, as duas unidades — uma em Nova York e outra em Washington — são equipadas com cozinhas comunitárias, bares, lavanderias e espaços de convivência.

A transformação digital e as novas formas de trabalhar trouxeram um desafio também à educação básica. A grande pergunta é: como preparar as crianças para o século 21? Contamos essa história na matéria sobre A Escola do Amanhã, na revista Época NEGÓCIOS de fevereiro. A edição 132 traz também uma entrevista exclusiva com Miguel McKelvey sobre o WeGrow. Em fevereiro nas bancas, no app e no Globo+.

FONTE: ÉPOCA NEGÓCIOS