A CEO da startup de satélites que desafiou o governo dos EUA

SARA SPANGELO EM FOTO DIVULGADA PELA CANADIAN SPACE AGENCY, NO INÍCIO DE 2017. NA ÉPOCA, ELA DISPUTAVA UMA VAGA DE ASTRONAUTA (FOTO: DIVULGAÇÃO/CANADIAN SPACE AGENCY)

No começo de janeiro, a Swarm Technologies levou para o espaço quatro microssatélites dentro de um foguete (PSLV-C40) lançado na Índia. Os satélites, chamados de SpaceBees, são aproxidamente do tamanho de um pequeno pedaço de pão. Com o lançamento, a startup americana quer ajudar a montar uma “rede de internet das coisas” no espaço, o que permitiria comunicações no mundo todo — mesmo em locais onde não há cobertura tradicional. Os microssatélites conectariariam os dispositivos IoT via Bluetooth ou Wi-Fi e transfeririam esses dados para estações terrestres. Há muitas empresas com este mesmo objetivo — incluindo esforços grandes de Elon Musk, dono da SpaceX — e da OneWeb. O único problema dessa história é que, no caso da Swarm Technologies, não havia autorização para o lançamento.

O governo americano, por meio da Federal Communications Commission (FCC), havia proibido os “SpaceBees”, por considerá-los potencialmente perigosos ao funcionamento de outros satélites em órbita. Segundo especialistas da indústria aeroespecial, esta é a primeira vez que uma empresa privada lança uma aeronave sem uma aprovação explícita de um governo. A FCC está investigando o caso. O episódio mostra, segundo o Quartz, como as empresas privadas estão, de forma rápida, ultrapassando limites regulatórios — ou aproveitando a falta de regulação — para empreender no espaço.

Por trás da Swarm Technologies, atuando como CEO, está uma ex-engenheira do Google e da Nasa: Sara Spangelo. Em sua descrição do LinkedIn, Sara define sua missão como “conectar o mundo através de microssatélites”. Na Nasa, a executiva trabalhou no Jet Propulsion Laboratory, no desenvolvimento dos chamados CubeSats, satélites em miniatura usados para realização de pesquisas espaciais. “Responsável pelo desenvolvimento do design dos CubeSats, pela operação e custo da missão”, afirma em seu perfil. No Google, ela trabalhou como engenheira na área de concepção de aeronaves entre 2016 e 2017. Desde de janeiro de 2017, ela atua como CEO da Swarm Technologies, startup que fundou ao lado do ex-engenheiro da Apple Benjamin Longmier.

Sara ficou entre as 32 finalistas de um concurso da agência espacial canadense (Canadian Space Agency) para selecionar astronautas. Segundo perfil publicado pela agência, ela se formou em engenharia mecânica na Universidade de Manitoba, em Winnipeg, província canadense onde nasceu e cresceu. Fez mestrado e doutorado em engenharia aeroespacial na Universidade de Michigan, nos EUA. Ser astronauta sempre foi um sonho de criança, quando começou a ter contato com temas ligados ao espaço, exploração aeroespacial e aplicação de ciência e matémática durante um acampamento temático. “Uma das coisas que mais amo no meu trabalho é usar conceitos de design para resolver problemas estruturais de sistemas aeroespaciais, levando em conta interações futuras como impactos técnicos, comerciais e sociais. Eu sempre acho um desafio divertido”, disse em entrevista à Canadian Space Agency.

Até o momento, segundo a mídia americana, Sara Spangelo não se pronunciou sobre o lançamento não autorizado dos microssatélites. Não há precedente para isso e é incerto de que forma o governo americano irá reagir. Até agora, a SpaceX, de Elon Musk, a Blue Origin, de Jeff Bezos e novas empresas espaciais comerciais jogaram seguindo as regras governamentais, mesmo quando tentavam influenciar, de forma silenciosa, mudanças. Sara Spangelo parece buscar outra direção.

FONTE: ÉPOCA